Hoje o despertador poderia tocar e nós o adiaríamos umas trinta vezes, não arrumaríamos a cama e a geladeira estaria repleta de congelados e Coca-Cola. Sentaríamos no sofá - eu só com sua camisa e você só com sua samba canção - e discordaríamos quanto ao programa de tv. Comeríamos qualquer coisa parecida com uma lasanha, enquanto faríamos planos para nossa futura viagem. Canadá? Veneza? Japão? Sairíamos para ver o mar e levaríamos o nosso quase obeso beagle, que devido a uma eterna indecisão, ainda não teria nome. Ouviríamos Seu Jorge, Djavan e Caetano. Você cantaria mais alto do que todos eles e olharia nos meus olhos como se, você mesmo, tivesse escrito cada verso daquelas músicas pensando em mim. Iríamos jantar numa noite de chuva e chegaríamos encharcados. Nos beijaríamos como se fosse o primeiro beijo e você, com cara de sacana, diria que eu pareço um pequeno panda com os olhos borrados de rímel; eu te beliscaria, na tentativa de esconder um pequeno sorriso; você revidaria com cócegas. Começaríamos nossa épica brincadeira de lutinha. Você por cima prendendo os meus braços e eu por baixo tentando escapar. Movimentos rápidos e selvagens com beijos intercalados, revelariam a minha vontade de, pelo menos dessa vez, não perder pra você, Uma linha tênue entre carinho e força. Eu usaria meu ataque surpresa, mordendo cada partezinha do seu corpo que meus sedentos dentes pudessem alcançar. Você não fraquejaria e apesar dos pequenos gemidos, pareceria gostar. Após a minha eminente derrota, você deitaria sobre a cama com aquele sorriso de quem acabou de vencer uma luta mortal, imaginando qual sacanagem pediria como prêmio pela vitória; e eu, desesperada por um copo d'água, tentaria achar forças para colocar os meus fios de cabelo no lugar. Eu deitaria sobre seu peito, você colocaria sua mão em meu cabelo. Eu riria sem motivo e você perguntaria o porquê. Não haveria resposta. Saberíamos.
Mah.