quarta-feira, 2 de março de 2011

Sonhos clandestinos

Estou a caminho de casa, sentada dentro de um ônibus em uma tarde comum de verão. Na realidade, estou buscando algo sobre o que escrever. A falta de inspiração me assusta, mas não sou escritora e estou sem assunto.
Lanço então, um olhar para fora de mim. Passo a observar as pessoas que entram apressadas para conseguirem um assento no ônibus. Gente de todos os tipos, com todas as suas histórias e peculiaridades. Então um homem de aparência cansada pede licença para ocupar o lugar ao meu lado. Sorrio como consentimento, ainda espantada com sua atitude - não é comum nos dias de hoje alguém pedir permissão para se sentar, ainda mais dentro de um ônibus.
Observo-o mais atentamente. É um homem de cabelos grisalhos, pele clara e olhos cansados. Sua postura refinada deixa-se acentuar pelo terno escuro que veste e a pasta em sua mão. Ele corre os olhos ao redor e mexe a perna de forma inquieta. Vejo, porém, que ele se contém rapidamente, deixando apenas uma ruga se formar entre seus olhos.
Pergunto-me o que o preocupa. Talvez, algum problema com a esposa...Olho em sua mão, mas não há aliança. Ao levantar meus olhos percebo, constrangida, que ele também está olhando para mim. Sua testa relaxa e com uma voz calma e rouca ele me diz as seguintes palavras: “O sonho é uma coisa clandestina”.
Continuo imóvel pensando sobre qual sonho ele se referia. O sonho quando dormimos ou os sonhos que sonhamos ao longo das nossas vidas. Percebo que nos dois casos ele não deixa de ter razão, pois os nossos sonhos são involutário, eles não seguem regras, não se preocupam com a moral ou com a sua capacidade de realização. Sonhar é não ter limites, é sair pela janela da liberdade e percorrer caminhos que nunca foram percorridos, sem se preocupar com o que os outros vão pensar, pois a melhor parte dos sonhos é que eles são feitos na clandestinidade das nossas mentes.
O ônibus para. O homem ao meu lado se levanta e com um aceno de cabeça abre um sorriso. Parte, levando consigo os seus sonhos.
- Marina F.
  

5 comentários:

  1. Que massa, Conheci um senhor assim daí de Vila Velha, ele mora na praia da Costa. Cabelo grisalho, bigode branco, maletinha de couro, seu nome é Gélio, sejeito ímpar.

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  2. MEUS OLHOS FICARAM MAREJADOS COM TAMANHA EMPATIA QUE SENTI AO LER SEU TEXTO. ME PEGUEI PENSANDO QUANTOS SONHOS EU JA TIVE AO LONGO DA MINHA VIDA E QUANTOS AINDA TEREI, MESMO SABENDO QUE MUITO NAO PASSARAO DE SONHOS. MAS DE QUE VALE A VIDA SE NAO HOUVESSE OS SONHOS PARA EMBALAREM NOSSO DIAS AMARGOS E TRISTES!

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